Preparamos uma postagem especial sobre Alfabetização e Letramento, tema que tanto interessa e talvez, traga angústia e dúvidas a tantos educadores no mundo todo.
Soares (2004) propõe a reinvenção da alfabetização, já que nas últimas 2 décadas, vimos florescer um movimento de invenção da palavra "letramento" e de desinvenção do termo "alfabetização".
Talvez, seja mais coerente redescoberta do processo de alfabetização, que hoje, tornou-se indissociável do conceito de letramento.
Não há relação direta entre alfabetização e letramento, o indivíduo pode até estar alfabetizado e não ter adquirido as habilidades do letramento. Porém, o mundo hoje, mas do que um cidadão alfabetizado, que decodifique o código escrito, pede um ser que saiba utilizar o processo de leitura e escrita em sua vida cotidiana.
Para Soares, nesta duas últimas décadas, com o crescente discurso das teorias cognitivistas e socioculturais, a alfabetização perdeu sua especificidade e seus métodos "tradicionais" (sintéticos e analíticos) começaram a ser rechaçados. Acrescente-se a esses equívocos e falsas inferências o também falso pressuposto, decorrente dessas teorias, de que apenas através do convívio intenso com o material escrito que circula nas práticas sociais, ou seja, do convívio com a cultura escrita, a criança se alfabetiza. A alfabetização, como processo de aquisição do sistema convencional de uma escrita alfabética e ortográfica, foi, assim, de certa forma obscurecida pelo letramento, porque este acabou por frequentemente prevalecer sobre aquela, que, como consequência, perde sua especificidade.
É preciso, a esta altura, deixar claro que defender a especificidade do processo de alfabetização não significa dissociá-lo do processo de letramento. Entretanto, o que lamentavelmente parece estar ocorrendo atualmente é que a percepção que se começa a ter, de que, se as crianças estão sendo, de certa forma, letradas na escola, não estão sendo alfabetizadas, parece estar conduzindo à solução de um retorno à alfabetização como processo autônomo, independente do letramento e anterior a ele.
Segundo Soares, dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais concepções psicológicas, linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita – a alfabetização – e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita – o letramento. Não são processos independentes, mas interdependentes, e indissociáveis: a alfabetização desenvolve-se no contexto de e por meio de práticas sociais de leitura e de escrita, isto é, através de atividades de letramento, e este, por sua vez, só se pode desenvolver no contexto da e por meio da aprendizagem das relações fonema–grafema, isto é, em dependência da alfabetização.
A concepção “tradicional” de alfabetização, traduzida nos métodos analíticos ou sintéticos, tornava os dois processos independentes, a alfabetização – a aquisição do sistema convencional de escrita, o aprender a ler como decodificação e a escrever como codificação – precedendo o letramento – o desenvolvimento de habilidades textuais de leitura e de escrita, o convívio com tipos e gêneros variados de textos e de portadores de textos, a compreensão das funções da escrita.
É preciso reconhecer a possibilidade e necessidade de promover a conciliação entre essas duas dimensões da aprendizagem da língua escrita, integrando alfabetização e letramento, sem perder, porém, a especificidade de cada um desses processos, o que implica reconhecer as muitas facetas de um e outro e, consequentemente, a diversidade de métodos e procedimentos para ensino de um e de outro, uma vez que, no quadro desta concepção, não há um método para a aprendizagem inicial da língua escrita, há múltiplos métodos, pois a natureza de cada faceta determina certos procedimentos de ensino, além de as características de cada grupo de crianças, e até de cada criança, exigir formas diferenciadas de ação pedagógica.
Em síntese, o que se propõe é, em primeiro lugar, a necessidade de reconhecimento da especificidade da alfabetização, entendida como processo de aquisição e apropriação do sistema da escrita, alfabético e ortográfico; em segundo lugar, e como decorrência, a importância de que a alfabetização se desenvolva num contexto de letramento – entendido este, no que se refere à etapa inicial da aprendizagem da escrita, como a participação em eventos variados de leitura e de escrita, e o consequente desenvolvimento de habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, e de atitudes positivas em relação a essas práticas; em terceiro lugar, o reconhecimento de que tanto a alfabetização quanto o letramento têm diferentes dimensões, ou facetas, a natureza de cada uma delas demanda uma metodologia diferente, de modo que a aprendizagem inicial da língua escrita exige múltiplas metodologias, algumas caracterizadas por ensino direto, explícito e sistemático – particularmente a alfabetização, em suas diferentes facetas – outras caracterizadas por ensino incidental, indireto e subordinado a possibilidades e motivações das crianças; em quarto lugar, a necessidade de rever e reformular a formação dos professores das séries iniciais do ensino fundamental, de modo a torná-los capazes de enfrentar o grave e reiterado fracasso escolar na aprendizagem inicial da língua escrita nas escolas brasileiras.
Tendo como base toda essa discussão teórica, propomos o estudo e análise dos quadros que apresentam os 5 Eixos da Alfabetização e Letramento, com as habilidades que devem ser trabalhadas a cada ano do ciclo de alfabetização, organizados pelo CEALE, em material desenvolvido para a Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais e para o MEC:
Antes de se iniciar verdadeiramente o processo de alfabetização, é indispensável que o professor proponha o diagnóstico inicial da turma. Só a partir daí, sob a análise das habilidades que já estão sendo construídas por cada criança, é possível pensar em método ou recursos e estratégias que poderão ser utilizados junto àquele grupo para se desenvolver o processo de alfabetização dos mesmos.
No material proposto pelo CEALE, encontramos um fascículo em que se é proposta uma avaliação diagnóstica com a sua matriz de referência:
Matriz de Referência da Avaliação Diagnóstica
Aquisição da Leitura e Escrita
Ana Paula Patente, em seu blog "Aprende Minas", dá algumas dicas de estratégias para avaliação diagnóstica e sugestões de atividades para trabalhar as habilidades que devem ser adquiridas pelos alunos, durante o ciclo de alfabetização.
Na avaliação, o professor deve verificar se o aluno:
• Compreende diferenças entre a escrita alfabética e outras formas gráficas;
• Compreende a orientação e o alinhamento da escrita na língua portuguesa;
• Compreende a função de segmentação dos espaços em branco e da pontuação de final de frase;
• Reconhece unidades fonológicas como sílabas, rimas, terminações de palavras, etc.;
• Compreende a categorização gráfica e funcional das letras;
• Conhece e utiliza diferentes tipos de letras (de fôrma e cursiva);
• Compreende a natureza alfabética do sistema de escrita;
• Domina regularidades ortográficas;
• Domina irregularidades ortográficas.
A partir deste diagnóstico, o (a) professor (a) poderá planejar atividades contextualizadas, partindo de textos como: poesias, parlendas, cantigas, entre outros, em que seja propostas atividades como:
• Contagem de palavras do texto;
• Utilizar frases em letras caixa alta e cursiva sem espaço para que o aluno identifique a segmentação das palavras em uma frase;
• Colocar as palavras da frase separadas para montar cada frase na sequência correta do texto;
• Identificar palavras que repetem;
• Identificar palavras que rimam;
• Identificar outras palavras que rimam, mas que não estão no texto;
• Identificar palavras que começam com determinada letra ou sílaba;
• Colocar palavras que começam com a mesma letra em ordem alfabética;
• Colocar palavras em letra cursiva em fila e pedir para o aluno encontrar as palavras iguais na caixa alta e vice-versa;
• Qual palavra é maior, qual palavra é menor e quantas letras cada uma tem;
• Variar com texto lacunado para o aluno completar com a ficha. Podem ser tiradas: palavras grandes, palavras pequenas, verbos, rimas, etc.
• Variar com texto lacunado para o aluno completar com as palavras que estão no final do texto, escolhendo a mais adequada dando sentido ao texto.
• Ler o texto individual, ler em dupla, ler para o colega;
• Tirar do texto palavras com cinco letras, seis letras, etc.;
• Tirar do texto palavras com três sílabas, quatro sílabas, etc.;
Criar atividades interessantes como:
• Caça-palavras;
• Ditado de grade;
• Ditado visual;
• Listar palavras que rimem com...
• Cruzadinha com desenho;
• Buscar palavras com mesmo som;
• Palavras com mesmo nº. de letras;
• Palavras que inicie com a letra..., com a sílaba...
• Forca, entre outras que o professor poderá criar.
Outras dicas importantes:
• O trabalho em duplas nesse momento se torna muito produtivo desde que sejam montadas duplas de alunos com dificuldades semelhantes onde os alunos podem refletir um com o outro suas produções escritas e confrontá-las com as regras ortográficas.
• Incentivar os alunos a revisarem sua própria escrita, comparando as palavras que eles escreveram de forma "incorreta" com algum colega ou com algum material escrito que apresente a forma correta, por exemplo, o dicionário.
• Copiar ajuda a observar como se escreve, mas esta atividade precisa ser monitorada de forma que o aluno perceba essa característica da cópia. Portanto as cópias precisam ser corrigidas. E isso pode ser feito pelo professor, pelo aluno, pelo colega através de trocas, etc.
Bibliografia:
Coleção "Orientações para Organização do Ciclo Inicial de Alfabetização", material desenvolvido pelo CEALE / Governo do Estado de Minas Gerais, 2005.
Soares, Magda. "Letramento e alfabetização: as muitas facetas". In: Revista Brasileira de Educação. N. 25, jan.- mar, 2004.
http://aprendeminas.blogspot.com/