Segundo Jesus (2008), o professor na sala de aula é um líder, pois procura influenciar os seus alunos para que estes se interessem pelas aulas, estejam atentos, participem, apresentem comportamentos adequados e obtenham bons resultados escolares.
Neste contexto, importa analisar que fatores podem permitir aos professores influenciar os seus alunos ou, no mesmo sentido, o que é que leva os alunos a deixarem- se influenciar pelo professor.
Seguindo as ideias de French e Raven (1967), podemos distinguir quatro grandes fatores de influência dos professores sobre os alunos: o reconhecimento do estatuto do professor pelos alunos; o reconhecimento pelos alunos da capacidade de recompensar ou de punir do professor, através das avaliações e das estratégias de gestão da indisciplina; o reconhecimento pelos alunos da competência do professor nos conhecimentos que este lhes pretende ensinar; o reconhecimento de certas qualidades pessoais e interpessoais no professor, apreciadas pelos alunos, desenvolvendo-se processos de identificação (JESUS, 1996b).
No passado, os alunos deixavam-se influenciar pelo professor por aceitarem pacificamente o seu estatuto, por o considerarem competente na área de conhecimentos que devia ensinar e também por lhe reconhecerem poder para recompensar ou punir através das avaliações e das estratégias de gestão da indisciplina, não sendo postas em causa as decisões tomadas pelo professor a este nível.
Atualmente, devido a múltiplos fatores (JESUS, 2002, 2003, 2007; LENS e JESUS, 1999), muitos alunos não se deixam influenciar pelo professor apenas devido ao fato de ser o “senhor doutor” ou “senhor professor” a sugerir, desvalorizam a escola como fonte de acesso ao saber ou conhecimento, colocando muitas vezes em dúvida a competência do professor, para além deste também ter vindo a perder poder no que diz respeito à capacidade de gestão da aprendizagem e da disciplina dos alunos. Assim, dos quatro fatores de influência distinguidos, aquele que parece ter maior importância na atualidade é a identificação do aluno com o professor. Isto é, o sucesso do professor junto dos alunos passa muito pelo reconhecimento de certas qualidades pessoais e relacionais.
No passado, os alunos tinham que se adaptar aos métodos dos professores, mas hoje, o professor deve procurar ir ao encontro dos interesses e da linguagem dos alunos, sendo flexível e dando o exemplo (um líder não pode funcionar segundo o princípio “faça o que eu digo e não o que eu faço”).
Para potencializar a criação de “laços” com os alunos e a motivação destes, os professores devem evitar o distanciamento, a “neutralidade afetiva” e o autoritarismo, devendo, ao contrário, fomentar uma “relação de agrado” (RIBEIRO, 1991), caracterizada pelo diálogo, pela negociação e pelo respeito mútuo.
Embora os professores tenham perdido poder nos últimos anos, dificultando a utilização de alguns fatores de influência sobre os alunos que no passado resultavam, continuam a possuir um instrumento fundamental para conseguirem criar laços de identificação com os alunos, influenciando-os: a linguagem utilizada na relação pedagógica,quer verbal, quer não verbal. Algumas das frases que o professor pode utilizar para uma “relação de agrado” são as seguintes: “devia estar orgulhoso dos seus resultados”, em vez de “estou orgulhoso de você” (no sentido de responsabilizar o aluno pelo seu comportamento, indo ao encontro da sua necessidade de auto-determinação); “está quase lá”, em vez de “está quase tudo errado” ou “você não faz nada da maneira certa” (no sentido de promover uma percepção de aperfeiçoamento pessoal e o esforço do aluno); “estejam à vontade para perguntar sempre que não compreenderem alguma explicação ou queiram apresentar algum comentário relevante”, em vez de “não me interrompam, se tiverem dúvidas perguntem no fim” (no sentido de promover a participação dos alunos e a compreensão e o acompanhamento das explicações do professor); “veja como hoje você se comportou bem”, em vez de “para brincar está sempre pronto” ou “tinha que ser você” (no sentido de evidenciar os comportamentos de disciplina dos alunos e não apenas os de indisciplina).
Especificamente, existem diversas estratégias que os professores podem utilizar para motivar os seus alunos para as tarefas escolares (ABREU, 1996; CARRASCO e BAIGNOL, 1993; JESUS, 1996B; LENS e DECRUYENAERE, 1991):
• manifestar-se entusiasmado pelas atividades realizadas com os alunos, constituindo um modelo ou exemplo de motivação para eles;
• clarificar, logo no início do ano letivo, o “porquê” da seqüência dos conteúdos programáticos da disciplina que leciona, levando os alunos a aperceberem-se da coerência interna entre as matérias, a aprender e a adquirirem uma perspectiva global dessas aprendizagens;
• explicitar o “para quê” das matérias do programa da disciplina que leciona, em termos da sua ligação à realidade fora da escola e da sua relevância para o futuro dos alunos;
• alargar a perspectiva temporal de futuro dos alunos, levando-os a valorizar certas metas para cujo alcance a escola constitui um meio ou instrumento, contribuindo para que eles não se limitem a uma atitude imediatista e consumista face às alternativas facultadas pela sociedade atual;
• salientar as vantagens que poderão advir para a vida futura dos alunos se estudarem, comparativamente às desvantagens se não estudarem, embora atualmente haja uma grande incerteza quanto às possibilidades de concretização dos projetos pessoais;
• procurar saber quais são os interesses dos alunos e o nome próprio de cada um deles;
• deixar os alunos participarem na escolha das matérias e tarefas escolares, sempre que possível;
• criar situações em que os alunos tenham um papel ativo na construção do seu próprio saber (de acordo com o provérbio “se ouço esqueço, se vejo lembro, se faço aprendo”);
• aproveitar as diferenças individuais na sala de aula, levando os alunos mais motivados, com mais conhecimentos ou que já compreenderam as explicações do professor a apresentarem os conteúdos aos outros alunos com mais dificuldades;
• incentivar diretamente a participação dos alunos menos participativos, através de “pequenas” responsabilidades que lhes possam permitir serem bem sucedidos;
• fomentar o desenvolvimento pessoal e social dos alunos, através de estratégias de trabalho autônomo e de trabalho de grupo;
• utilizar metodologias de ensino diversificadas e que tornem a explicação das matérias mais clara, compreensível e interessante para os alunos;
• estabelecer as relações entre as novas matérias e os conhecimentos anteriores;
• partir de situações ou acontecimentos da atualidade ou da realidade circundante para ensinar as matérias aos alunos;
• utilizar um ritmo de ensino adequado às capacidades e conhecimentos anteriores dos alunos, privilegiando a qualidade à quantidade de matérias expostas;
• criar situações de aprendizagem significativas para os alunos, contribuindo para uma retenção das aprendizagens a médio/longo prazo;
• evitar levar os alunos a estudar apenas na perspectiva do curto prazo porque vão ser avaliados sobre as matérias em causa;
• diminuir o significado ansiógeno dos testes de avaliação, contribuindo para o potencializar das qualidades dos alunos, para um maior empenhamento destes noutras tarefas escolares e uma menor ansiedade face às provas de avaliação;
• proporcionar vários momentos de avaliação formativa aos alunos, levando-os a sentirem satisfação por aquilo que já conseguiram aprender e motivação para aprenderem as matérias seguintes;
• reconhecer o progresso escolar dos alunos, comparando os seus conhecimentos atuais com os seus conhecimentos anteriores, levando-os a perceberem as melhorias ocorridas e a acreditar na possibilidade de ainda poderem melhorar mais os seus desempenhos se se esforçarem;
• reconhecer e evidenciar tanto quanto possível o esforço e a capacidade dos alunos, não salientando sobretudo os erros cometidos por estes;
• ter confiança e otimismo nas capacidades dos alunos para a realização das tarefas escolares, explicitando-o verbalmente;
• contribuir para que o aluno seja bem sucedido nas tarefas escolares, aumentando a sua auto-confiança, nível de excelência e “brio” na realização escolar;
• promover a realização de tarefas de um nível de dificuldade intermediário aos alunos, pois as tarefas demasiado fáceis ou demasiado difíceis não fomentam o envolvimento do aluno, nem a percepção de competência pessoal na sua realização;
• levar os alunos a atribuir os seus fracassos a causas instáveis (por exemplo, falta de esforço) e não a causas estáveis (por exemplo, falta de capacidade), de forma a que aumentem as expectativas de sucesso e o empenhamento em situações futuras;
• clarificar crenças inadequadas sobre os resultados escolares que os alunos possuam e que possam estar a contribuir para um menor esforço ou empenhamento nas atividades de estudo (por exemplo, “o professor não gosta de mim e, logo, não vou conseguir obter boa nota”);
• ajudar os alunos a aproveitarem o esforço dispendido nas tarefas de aprendizagem, através do desenvolvimento de competências de estudo, pois “mais vale estudar pouco e bem do que muito mas mal”.
JESUS, Saul Neves. "Estratégias para motivar os alunos" In: Educação. Porto Alegre, v. 31, n. 1, p. 21-29, jan./abr. 2008